CARNE DE PESCOÇO

24 outubro 2006

Esporte Solitário

Por diversas vezes na vida a angústia toma conta. Não há drogas, entorpecentes ou barbitúricos suficientes para aplacar a ânsia de adrenalina subliminar, aquela que fode na alma mesmo.

Uma puta revolta vai desencadeando uma indigestão sistemática, e a hemorragia de prazer se faz necessária. Mas como alcançar nirvana rodeado de fantasmas acinzentados de uma realidade?(Por que os do natal eu já comi na ceia passada). E vou vociferando, correndo atrás de algo que me ajude a lograr a minha consciência, por que ela me coloca em pé de igualdade com mulheres submissas. É uma burca negra, que me tapa até os olhos, e me faz regozijar nos poucos segundos de liberdade, quando o vento roça os pelos pubianos e me faz um pervertido, um lobo mau que deseja comer até o rabo da vovozinha.

Então, sem bebidas, drogas ou acidez alguma, recorro ao símbolo máximo de domínio do universo masculino, aquilo que nos torna capazes de resistir às investidas mais fortes de fêmeas alucinadas. A amiga das horas tristes e que devasta cada gota da pureza que um dia me fez um bom garoto. A punheta! Um momento de interiorização que no auge da agonia faz mandar Shakespeare a merda e recitar bem alto “Holly shit!”.

E nesse momento que sou só no mundo, me transformo em um Dom Juan de Marco, quando nenhuma conquista é impossível. E nesse frisson de sensações desperto para uma vida que não é possível nos tramites normais do dia a dia. Desisto da starway to heaven e me largo acelerando em uma highway to hell, embora acredite na sábia frase do Woody Allen, que dizia que “se Deus não quiséssemos que nos masturbássemos teria feito nossos braços mais curtos”.

Ouvindo Siririca baby!

15 outubro 2006

Dr. Benway

Nem todas almas sãs precisam de um corpo são, era o que o dr. Benway repetia constantemente entre uma cerveja e outra. E me contava sobre seus pacientes com nenhuma ética. Dentre elas lembro-me de seu Fraudolino, velhinho simpático, pai de cinco filhos, freqüentador de igreja pentecostal que visitava constantemente o consultório tentando manter a pressão controlada e em uma visita queixou-se de coceira anal. Benway diagnosticou verrugas venéreas. E em uma pergunta séria ao paciente de 76 anos _Fraudolino você tem relações sexuais anais? _Olha Dr, tenho freqüentemente, mas com um cachorro foi só uma fez.
Dr. Benway ria tranqüilo enquanto pensava que história pior era a da Ângela Pinto dos Santos, que carregava 6 filhos, um de cada homem e dizia que o marido de nada sabia. Até que Benway constatou que o iludido era estéril. Com seu olhar de complacência ele anunciou ao marido _Você é estéril, _Sim doutor já sabia disso, desde antes de casar com Ângela, mas não julgue a coitada, ela me trai só porque queria ter filhós.
Benway conhecia também a vida das prostitutas, além dos usuários dos bordéis de sua cidade. E me contou de jovens de classe média que chegavam com o pênis babando pus, com cuecas manchadas, dor pra urinar enfim uma das doenças mais velhas do mundo a gonorréia. Alguns juravam que nunca tinham transado com outra mulher a não ser a esposa, Benway franzia a testa, acabavam confessando, como em uma seção de tortura _Doutor foi só uma vez. Tem os mais tranqüilos que abaixavam a calça, mostrando a bunda, dizendo _Vai doutor aplica aí a benzetacil. Teve um até que tinha tatuado um alvo com uma seta – escrito penicilina, bem no local de aplicação, brincam que a prostituta era tão gostosa que estão gozando já há 1 mês.
Os mais nobres agiam com tranqüilidade, _Olha doutor, preciso trazer minha esposa? _Sim, o que você vai inventar pra ela? Perguntava Benway só por interesses escusos, _Vou falar a verdade, era a decepção de Benway que queria colecionar suas figurinhas de histórias podres.
Nem todas almas sãs precisam de um corpo são, repetia Benway e seguia me contando sobre seus pacientes...


PS: Dr. Benway é um personagem do livro Almoço Nu de Willian S. Burroughs.