CARNE DE PESCOÇO

18 setembro 2006

Ceci, Bruna, Pedro e Capitao

Cecília tinha um metro e sessenta de corpo escultural, seios firmes e atraentes, cabelos castanhos longos levemente ondulados com “luzes”, lábios carnudos, dentes perfeitos. Entrou no bar de sopetão, fazendo cara de quem tinha certeza que encontraria algum conhecido ali, apesar de nem imaginar quem. Imediatamente viu o discreto trio formado por Bruna, Pedro e o Capitão, este acenou para ela imediatamente. Resolvido seu problema no primeiro passo que dera lá dentro, encontrou conhecidos. Estava sozinha e era um pouco tarde, mas preferiu sair atrás da companhia de amigos num bar do que voltar para casa. Tinha acabado de transar com o ex-namorado no apartamento dele. Havia ido lá, a pedido dele, para pegar seu liquidificador. Quando eram namorados, no verão, gostavam de tomar suco de frutas natural, batido com gelo, imediatamente após o sexo, vestindo roupas de baixo, sentados em banquinhos na sacada. Para tal, Cecília tinha comprado um liquidificador. Terminaram o namoro algum tempo depois, de comum acordo, nada realmente importante. Há poucos dias ele tinha pedido para ela buscar o liquidificador, convenientemente num sábado à noite. Ela pegou o aparelho, trocaram alguns comentários, um breve bate-papo. Quando Cecília percebeu que ele a levaria até a porta para por fim a visita, agarrou-o e enfiou a língua na sua garganta. Ele ficou sem um botão da camisa, mas conseguiram despir-se ainda em pé na sala. Transaram no sofá, papai-e-mamãe de forma muito rápida. Cansados e com calor, foram para o quarto, onde transaram mais duas vezes, agora em diversas posições. Cecília gozou as três vezes, não era sempre assim. Arrumou-se no banheiro rapidamente, não quis suco de frutas, não queria sujar o liquidificador. Com um misto paradoxal de alegria e infelicidade, vontade de viver plenamente e um vazio interior, decidiu parar no bar antes de ir para casa.
Enquanto se dirigia ao encontro dos amigos, numa mesa ao lado cinco rapazes bastante jovens ficaram apopléticos e a fitaram como um cão faminto fita um grande frango frito numa churrasqueira a gás na frente de uma padaria. Um homem de quase cinqüenta anos, acompanhado de uma bela mulher de trinta e cinco numa mesa mais distante também farejou Cecília, mas a olhou com mais descrição, porém, talvez, com mais desejo. Definitivamente ela cheirava a sexo, seja porque assim sempre foi, seja porque tinha acabado de foder. Vestia uma calça jeans clara, quase bege, cintura saint-tropez, uma blusinha de fio quase colada ao corpo e carregava uma leve jaqueta verde musgo no braço esquerdo. Usava maquiagem, brincos e anéis, mas de forma pouco explícita. Tinha a grande virtude de não pintar os lábios e dar preferência a uma maquiagem mais exagerada nos olhos. Esse aspecto, que diferia do habitual das mulheres, sempre chamou a atenção de Pedro.
Chegou falando, atropelando os cumprimentos, dando uma porção de notícias gerais e pessoais de pouco interesse aos três, mas logo estava bem à vontade.
- De onde é tu vens essa hora? Perguntou Rodrigo.
- Ah Capitão... estava fazendo umas coisas em casa, enchi o saco, peguei e saí, nem me arrumei. Respondeu sem hesitar.
- E mesmo assim está uma gata, disse Pedro, já te falei que adoro os teus olhos?
- Olhos bonitos aqui são os da Bruna, disse Cecília, grandes e bem pretos, meu sonho ter olhos assim.
- E míopes, brincou Bruna.
- Os olhos são a janela da alma, professou Rodrigo. Todos vaiaram, Bruna atirou um pedaço de queijo na sua testa.
- Não sei bem o que são os olhos, mas sem dúvida dizem mais que os lábios, os seios ou as pernas, falou Pedro olhando profundamente para Cecília, que corou ligeiramente e mudou o assunto.