na varanda da minha mente
já acho que não há mais tempo pra mim
pois almejava grande feito nesta terra
e os astros não conspiram, nem conspirarão
pra que eu possa parir o que meu peito encerra
grávido estou de idéias e palavras
mas precinto que será um feto morto
pois de meu ventre não sairá se não houver
aconchego entre amigos no esperado parto
já sei que os comparsas procuram o ouro
não são obscecados, muito menos ambiciosos
são somente peças do mercado
buscando seu parco espaço no meio desastroso
gestando o meu elã, também me perdi
o advento do advento, que não chega, que não sente
com lampejos do mundo que sonhava cada vez mais distante
mais utópico, ultrajado, vergonhoso, adolescente
então feri meus princípios e maculei o venerável
agora pra suportar o feto morto
tenho taças pra anestesia confortável
e perambulo na varanda da minha mente de ogro
4 Comments:
Interessante.
...Em partes , me identifiquei.
Assim,não gerei um feto que veio a morrer.Mas ás vezes acho que sou um aborto neste mundo.
Me lembro de quando há muito tempo atrás, descia da montanha Zaratustra para me dizer que estava sempre a acompanhar o que eu escrevia, pois minhas visões simples e ingênuas de um jovem em dúvida eram carnais. Hoje vejo o quanto cresci de lá pra cá. Às vezes releio o que você tinha a me dizer até então, e vejo como estava certo na maioria das vezes. Agora entendo o que queria dizer com as visões carnais, e agora venho sempre até aqui para ver se encontro as tais visões experientes. Hoje, não vejo aqui mais do que uma visão carnal, um jovem desiludido. Com mais classe talvez, com mais experiência, mas não menos em dúvida do que um garoto de 17. Gostei muito desse texto, me fez pensar, me fez tentar entender porque guardam as utopias, as vontades incessantes, os discursos inflamados, as volúpias, para a juventude e aqueles que bebem de sua taça. Espero um dia ter visões experientes, espero um dia ser talvez mais pragmático, mas se numa manhã acordar sentindo que não mais tenho o peito invadido por emoções carnais de um jovem, terei em mente que perdi o que mais dá sentido ao meu espírito irriquieto. Senti ao ler o seu lamento, o desalento, o suspiro perdido por não saber se ainda há tempo de ter visões carnais. Essa foi a maneira que encontrei para interpretar suas palavras. Posso não estar certo, mas creio que esteja. E se me permitir; subo a montanha e lhe digo que suas visôes são interessantes, são visões de alguém que já passou pelo caminho que ainda tenho a percorrer. Mas não deixe morrer o que há de mais puro no espírito humano, a juventude. A juventude não corporal, mas de vontades, de pulsações. Se noutro dia você me disse que não preciso provar nada para ninguém; hoje venho até aqui para lhe dizer que não tome as dores você do feto que apodrece. Tenha outro filho talvez, mas não se culpe pelo que era inevitável.
Cheiro de carne de pescoço nos arredores da montanha.
Prezado Zaratustra, vejo aí bons versos de poesia mas um incômodo cheiro de frustração e desilusão, que são ou geralmente parecem ser uma dupla despresível. Se seu feto não nasceu, é provável que não era pra nascer; prematuro, inadequado ao meio que viveria, suicida. Sabe-se lá. Agora, assumir a esterilidade não acho ser o caminho. Ninguém nasce pra esterilidade. Todos nascem sim, na hora que tem que nascer, e assim serão os frutos de sua alma. Vale lembrar que às vezes os filhos não são assim como os pais querem, oque não é necessariamente ruim. Agora, perambular pela varanda talvez não seja tão eficiente para a fecundação como o fogo da lareira ou o aconhego da cama.
Saudações de camisa listrada.
vai cachimbar formigas, zaratustra.
Como diria aquele grande filosofo dominical: "Quem sabe faz ao vivo". E faz sozinho, se for preciso.
e agora vê se larga mão de se ver como um beatnik que renunciou os confortos do ouro e me ligue pra tomar um vinho importado na sua casa. Um não. Dois, pelo menos. E passe lá no Armazém Mineiro antes e compre uns queijos bons pra eu beliscar enquanto ouço você falar mais sobre essa mente de ogro que você mencionou.
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