11 julho 2006

So don’t go away.....
Lembrava angustiado e feliz o dia em que ela lhe traduziu essa música. Não entende como não a beijou imediatamente, como não demonstrou a felicidade absurda que estava sentindo, como não caiu de joelhos e chorou naquele dia mais feliz da sua vida.

So don’t go away, say what you say, say that you’ll stay....

Um frio no peito lhe tomava conta quando escutava essa música, sofria, mas amava a sensação. Ia casar dentro de 4 meses. Tinha certeza que essa paixão ia acabar conforme a data do casamento fosse se aproximando. Tinha a noiva perfeita, como essa paixão poderia atrapalhar? Como casar com alguém pensando em outra? Como parar tudo agora? Ideias ilógicas, irracionais, como a sua paixão. Segurança ou aventura? A imagem da noiva aparecia-lhe por vezes sempre que lembrava de sua amada. Não era uma aparição repressiva, policial, chantagista, era uma aparição calma, com aquele sorriso simples dos melhores amigos. Isso não o agradava, não queria lembrar da noiva quando pensava nela, mas era impossível. Via a noiva como uma amiga, uma mulher admirável, forte, linda, engraçada, frágil... mas ardia em chamas por outra mulher.

Cold and frosty morning theres not alot to say about the things caught in my mind…

Não sabia se era correspondido. Inicialmente isso não importava, nunca importa para amores platônicos. Ela era apaixonante, quente, meiga, misteriosa. Fora de seu alcance, diria.
Naquele dia tinha deixado transparecer um pouco seus sentimentos. Difícil saber se ela compreendeu. Os julgamentos ficam como uma massa amorfa de pensamentos dentro de um caleidoscópio, não se tem certeza de nada. Ela sorria seu lindo sorriso discreto, aprofundava as covinhas no canto da boca, olhava-o como um anjo.
Falavam de trabalho enquanto abasteciam o carro no meio de uma carona para casa. A chuva e o engarrafamento renderam a idéia de beber algo no posto, relaxar e esperar um pouco. Ele tomou uma cerveja, long neck importada, ela um soft de gim. O som do carro tocava live forever. Ele disse que se identificava com a musica. Nesse momento já tinha medo de falar bobagem, já tinha ido longe demais na conversa anterior. Ela concordou com a ligação com a musica, mas mudou a faixa e disse, Essa me lembra você um pouco mais.

damn my situation…
and the games i have to play…
with all the things caught in my mind…
damn my education…
I can't find the words to say about the things caught in mymind…

Ela foi traduzindo lentamente, reforçando a angústia da virtual situação do autor. Ele nunca havia se sentido tão impotente, descoberto, mapeado.

cause i need more time…
yes, i need more time just to make things right…

Pensou em gritar, Te amo, me dá o tempo de resolver minha vida e fica comigo!!!
Pensou em beijá-la, docemente, chorar em seu colo.
Fez coisa alguma, elogiou o gosto musical, e só.

i don't wanna be there when you're coming down…
i don't wanna be there when you hit the ground…

Sua vida era um inferno astral não resolvido, todos seus concretos planos pareciam jogos infantis agora, as pessoas mais próximas viraram estranhos, não entendia como poderia ter chegado a tal situação. Tomavam decisões por ele, ditavam sua conduta, respondia por tudo, não tinha vontade nem personalidade.... um dia já tinha achado isso seguro, já tinha acreditado que seria mais fácil, já tinha até gostado.
Não tem certeza se pode ser um lobo da estepe, Isso é para intelectualóides irresponsáveis, dizia. Mais uma vez seus julgamentos se fundiam com seus critérios escolhidos ou desenvolvidos desde a infância, suas prioridades eram invisíveis, seus planos vazios, seu caminho era a maré, à deriva esperando o fim, mas seus valores eram fortes, sua personalidade ainda não estava totalmente ferida de morte. Sangrava, alijada de importância, mais ainda respirava.
Escutou a música mais uma vez, o peito ardendo. Só pensava nela.
Terminou de preparar seu baseado, cada vez mais difícil ter tempo e lugar, agora sempre escondido num teatro amador de mentiras, acendeu, deu a primeira baforada e disse para si mesmo, Hoje eu resolvo isso.

2 Comments:

Blogger Zaratustra said...

e... não resolveu! nunca se resolve!

4:57 PM, julho 11, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Sabia que o Sidão morreu?

5:44 PM, julho 11, 2006  

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