03 junho 2006

Senta que la vem a historia....

Tropecei em meus chinelos cor-de-rosa (eles não amam essa cor, preferiam ser azuis, mas simpatizam com o vermelho que quase são) essa manhã ao levantar. Machuquei de leve o esquerdo, sempre distraído, não pulou para o lado como o direito, sempre mais esperto. A direita é sempre mais esperta que a esquerda. Depois das desculpas, solicitei gentilmente (já estava sendo gentil, foi fácil continuar) aos meus comumelos mágicos (markadeerstrasse, 81) se podería comê-los, alguns, em meu petit déjeuner (eles falam francês, mas foram educados em "dutch"). Só sorriram... quem cala consente. O segundo foi mastigado cantando "Angie" dos Stones.
Agora sim, já enxergava melhor nessa manhã cinzenta. Abri a janela, como que por instinto, esquecendo que fazia frio, cerca de 0 graus, e que a neve da soleira poderia imediatamente tentar pular para dentro a procura de um canto mais aconchegante para morrer derretida, porém feliz. Isso não aconteceu... muita pretensão minha achar que a neve da soleira iria querer entrar na minha casa... o que minha casa tem de especial? Neve gosta é de frio!
Lavei o rosto, mas não me via no espelho. Via uma moça bonita, definitivamente não era eu, era melhor. Mas borrei sua leve maquiagem (um troço meio azul escuro em cima do olho) com água e sabão. Ela agradeceu e sumiu. Deveria estar cansada, ligeiramente perfumada, voltando de alguma aventura. E eu acordando...
Minha escova-de-dentes fez questão de escovar todos os dentes. Não ofereci resistência, cada um com seu trabalho. O fio dental deslizou indiferente, como um contador que faz o imposto de renda de uma velha viúva, ou como um guarda de trânsito em uma cidade do interior da Inglaterra. A solução fluorada de enxague bucal tinha gosto de molho indiano de iogurte, dessa vez exagerou. Sempre inventava novos sabores, gostava quando era canela, ou gianduja, mas curry com iogurte não ficou bom. Sentado na cadeira da escrivaninha achei completamente idiota um cuidado assim especial com os dentes, mas o mal já estava feito.
Dedilhei uns acordes que se assemelhavam ao ritmo indiano, para acompanhar o gosto de curry na boca, e então a camapainha tocou. Tocou de forma gentil, estávamos todos gentis naquela manhã. Do outro lado da porta percebi que havia um velho senhor e uma menina anã. Quando abri a porta e finalmente pude ver, com a luz púrpura que vinha de do apartamento ao lado, e compreendi que se tratava e uma jovem menina e um velho senhor anão. Diferente de todos nós, o senhor anão não era gentil e empurrou a menina para dentro de meu quarto, balbuciou algumas palavras com sua boca sem dentes, vestiu seu chapéu mágico (que ironicamente se parecia com uma cartola comum) e sumiu dentro dele. A menina sorriu pequenos dentinhos separados e me disse, sem falar palavra, que se chamava Brune e que estava ali pois achava aquele lugar muito legal (palavras, não pronunciadas, dela) e que todos ali eram muito gentis. Ofereci-lhe uma almofada e sentamos no chão. Seu cabelo castanho escuro e muito fino estava desordenado, vestia um vestido azul marinho e uma sandália de palha, a qual disse ter ganhado de um macaco no norte Tailândia quando visitava templos. Jogamos um pouco de dominó, mas nossas peças invisíveis nos impediam de saber quem ganhava. O que ela gostou mesmo foi de ver fotos de Köln e escutar um pouco das histórias que eu contava em baixo tom. Achava graça da minha forma primitiva de raciocínio e sempre repetia que eu era muito gentil. Comeu um cogumelo, que não se calou mesmo já dentro de seu estômago, sempre discutindo a fase amarela de Van Gogh. Pequenas asas, parecidas com asas de um libélula, foram surgindo de suas costas e subitamente ela voou iluminada pelo quarto, atravessou a parede dos fundos e foi embora agradecendo a gentileza.
Cocei a cabeça, flutuei até a escrivaninha, sentei com uma taça de chá bem quente ao meu lado, o quarto iluminado de verde escuro pelo sol, começei a escrever os fatos da manhã...

15 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Ooh não! Mais um colaborador misterioso...

2:12 PM, junho 03, 2006  
Anonymous Anônimo said...

É mesmo! Quem será ele?

2:34 PM, junho 03, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Será que ele é bunitinho?

2:35 PM, junho 03, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Poooooooo!

2:35 PM, junho 03, 2006  
Blogger Zaratustra said...

gentilmente como só nessas horas dá pra ser, lhe digo um respeitoso seja bem vindo... entre bispos, big brothers e seres de todo tipo, que temperam o caldeirão da sopa de carne de pescoço; só cuidado com um ente: o pedro nego! Esse ããã... não posso falar agora, enfim... cuidado!

8:53 PM, junho 04, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Novos colaboradores, Novos horizontes, novos olhares psicodélicos (kaleidoscope eyes?!).
Seja bem vindo, amigo Mr. Glass. Que nossa blogosfera se enriqueça mais, agora com a sua presença.

Sobre o texto: Me lembra Burroughs. Com um toque de gentileza à mais e códices mayas à menos. Gostei (estou sorrindo gentilmente nesse momento).

3:00 PM, junho 05, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Conheço isso,é plágio!

5:48 PM, junho 05, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Isso é racismo!

9:36 PM, junho 05, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Pooooo

9:37 PM, junho 05, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Há!!!

4:57 PM, junho 06, 2006  
Blogger Dr.SYD said...

Bem vindo companheiro... no absurdo, no noturno, no soturno, no entanto, entretanto e portanto!!!

5:02 PM, junho 06, 2006  
Blogger Rafa Kondlatsch said...

Olha mais um, vão dizer que a gente anda dando cria por aí... Eu acho que é filho do Zaratustra. Se não for que se foda, eu digo que é e já foi...

8:45 PM, junho 06, 2006  
Anonymous Anônimo said...

nem sei só to testando essas paradas aqui

vamo vê o qq dá né

falou ae bando de maluco

8:38 AM, junho 08, 2006  
Anonymous Anônimo said...

xi... só pode ser virus

1:22 PM, junho 08, 2006  
Anonymous Anônimo said...

Ae o cyberdingo, vírus é a tua bunda cheia de fezes virtuais

3:16 PM, junho 11, 2006  

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