28 março 2006

Os novos bons velhos tempos


Os novos bons velhos tempos


A princípio fiquei feliz. Estava em Mafra e escutando Rock’n Roll. Maravilhoso! Mas logo percebi a ilusão. A banda tocava com a empolgação de quem está agradando, mas havia alguma coisa que não soava em harmonia. Não estou falando da afinação, da técnica, nem dos tempos errados. Era o sentimento. Aquele som tinha cheiro de mofo remexido, gosto de café requentado. Ah, tocar rock’n roll hoje em dia é muito perigoso.
O rock não tem mais a força ideológica que o fez nascer, não tem a rebeldia, os cabelos longos, a roupa esquisita, muito menos as tietes em histeria. Não provoca repudia nos velhos, pelo contrário, provoca nostalgia dos “bons tempos”. E quem ele agrada? Agrada os pseudo-intelectuais que tem o rock como fonte de cultura alternativa e orgulham-se ao discursarem sobre detalhes de bandas que há 30 anos fizeram um sucesso estrondoso, ou melhor ainda, quando a banda foi bem pouco conhecida. Em histórias estranhas, que só agrada aos que pensam semelhante, divagam sobre os gostos, mulheres e peculiaridades de seus ídolos roqueiros.
E a banda continuava tocando, nada de novo, tudo tocado da forma mais parecida possível, pois era isso que o público queria ouvir. “Nossa ele faz igualzinho”, bradavam os teenagers que decoram as notas dos solos. Se arriscam algo diferente pode dar errado. Nada de tentar algo melhor, pois pra eles nada é melhor.
Porém, e esse porém é minha salvação. Eu gosto de rock, e acho que cultivar esse gosto é um paradoxo aos instintos criativos que habita em todo o homem. Pois há quem goste de barroco, de óperas, eu gosto de rock. Acho até que não era isso que John Lenon, Mick Jeagger, Roger Waters imaginavam quando compunham há trinta anos. Em serem escutados anos depois em bares do interior de países subdesenvolvidos com poucas de suas músicas serem entendidas. Mas, mesmo assim eu gosto. E como dizia Godard o que repete a arte é cultura. E o rock entrou pra cultura mundial. Não há mais arte no rock’n roll. Não há novo rock’n roll, mas ele não morreu, vai dando umas suspiradas mesmo que como modinha pra elite orgulhar-se de gostar de algo “diferente”.

Então, ao final da apresentação, em clima eufórico regada a doses extravagantes de álcool tive a ambivalente sensação de que voltaram e nunca mais voltarão os velhos bons tempos que não vivi.